Na vida de um adulto, todo menino ou menina que entra em cena nas relações pessoais ou profissionais é sua criança interior, que habita a alma de cada um. Ela pode ser alegre, viva, divertida ou birrenta, mal-humorada, contrariada, medrosa e até ferida. Para os psicólogos, a mistura ideal é ter dentro de nós o equilíbrio entre o pai protetor, o adulto responsável e a criança espontânea.
Existem sinais de comportamento que mostram quando o infantil está exacerbado ou ausente. Não achar graça em nada pode ser indício de que o adulto embotou a criança interior. Isso tem consequências negativas, como o medo de arriscar, ser pessimista demais, impaciente ou ranzinza. E a criança também pode vir à tona em dose para lá de exagerada em situações de medo ou defesa. Então ela faz birra, torna-se irracional, rebelde, abandonada. Um bom exemplo disso é a famosa frase “quero porque quero”, que qualquer um já falou e ouviu do companheiro ou do chefe. Ou o pensamento “não sei o que fazer” diante de dificuldades. Essa criança fica, então, encolhida, medrosa, assustada, à espera que marido, esposa, pai, companheiro de trabalho resolvam o dilema.
Outro exemplo comum de comportamento infantil é deslocar a responsabilidade para o outro. O pensamento mais recorrente é “você deveria ter feito isso por mim e não fez”. Como se você não tivesse as rédeas de sua vida. Nesse momento, a criança é acionada e explode em exageros: pode ser dramática tentando justificar seus erros. Daí vem o grito e, às vezes, até a agressão – reações desproporcionais às causas dos problemas. Nessas horas, é bom respirar, lembrar que é adulto e tirar a criança de cena para dar a proporção e a reação certas a cada situação.
Por outro lado, quem mantém uma relação harmoniosa com aspectos infantis da personalidade não tem medo de sonhar alto, demonstrar o que sente, ousar, chorar. E , também, não tem receio de envelhecer porque vê graça e novidade em cada etapa da vida. É no sonho, na alegria de viver que mora a criança saudável dentro de nós: ela ativa a vitalidade, a criatividade, o poder de transformação e a espontaneidade nos adultos de qualquer idade. E entrar em contato com essa criança interior não significa ser infantil; muito pelo contrário, é sinal de saber viver e trazer diversão para a rotina.
Falar com as crianças na linguagem delas e contemplar as coisas simples são jeitos infalíveis de alegrar a tal criança interior, que retribui deixando o riso mais fácil, reduzindo o estresse e até aumentando a satisfação no trabalho. É ela também que alimenta as relações, principalmente as amorosas. De onde você acha que surgem apelidos como amorzinho, chuchuzinho, benzinho?
Construímos uma identidade que nos afasta desse lado pueril, como se o fato de ser criança fosse menos inteligente ou valioso. Isso cria rigidez, reforça inseguranças, mágoas e frustrações. E, muitas vezes, é ao envelhecer que vem a autorização para ser criança novamente, para dizer o que quer e pensa.
Algumas atitudes simples que podem promover mudanças no humor e no jeito de viver o dia a dia:
- Tenha contato com crianças, sem vergonha de rolar no chão, falar devagar, trocar palavras ou assumir a postura quando você tinha 5 anos de idade nas brincadeiras.
- Participe de jogos coletivos: pode ser de tabuleiro ou de futebol, vôlei com os amigos. Esse contato tem cheiro de turma de infância.
- De vez em quando, folheie álbuns de fotografias e relembre a criança que você foi. Conte os momentos felizes de sua infância.
- Anote seus sonhos, ideais, como um lembrete ou um diário.
- Tente colocar seus sonhos e suas ideias em prática. O garoto que queria dar a volta ao mundo em um barco, aos 8 anos, pode ser o homem que, aos 40, compra um pequeno veleiro e sai nos fins de semana pelas lagoas... Lembre-se: a dimensão do menino não é a mesma do homem, e essa pode ser a forma possível de realizar as fantasias das infâncias.
- Pratique atividades não remuneradas, um trabalho voluntário ou algo que desenvolva sua criatividade (desenho, pintura, dança).
- Acredite: nunca é tarde para brincar!
Fonte: Bons Fluidos, ed. 57, Editora Abril
Entre nesse alto astral contagiante com Anna Ratto:
FAZENDO MÚSICA, JOGANDO BOLA
(Pepeu Gomes / Baby Consuelo)
Foi vivendo dessa maneira
Fazendo música, jogando bola
Que aprendi a brincadeira
Fazendo música, jogando bola
Como todas as crianças
Que nada sabem, que sabem tudo
Que aprendi a brincadeira
Fazendo música, jogando bola
Só queria alegria
Era de noite, era de dia
Fui brincar de aprendiz
Saquei a vida e sou feliz
Fazendo música, jogando bola
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